A história da Quinta das Primas nasce da coragem, da tradição e do espírito resiliente de uma mulher notável: Laura de Jesus Silva, carinhosamente conhecida como Laura Fogueteira.

     

        Mulher de fibra, casada com José Teixeira Barbosa (natural de Amarante, Fregim), era presença incontornável nas festas e romarias da região, onde animava os céus ao lançar os foguetes que marcavam os momentos de celebração. No Mercado de Braga, destacou-se pelo caráter empreendedor e pela qualidade excecional da fruta que vendia — em especial a cereja e a uva moscatel, colhidas nas encostas soalheiras da Quinta e nas margens do rio.

Sempre ao seu lado, um dos filhos, José Pinto Silva — conhecido como Zezinho, o Mudo — revelou-se o motor silencioso da terra. Embora sem voz, possuía uma inteligência rara e uma ligação profunda à natureza. Trabalhador incansável, conhecia cada recanto da propriedade e lia os ciclos da terra como poucos. Juntos, mãe e filho construíram uma relação com a Quinta feita de esforço, sabedoria e amor à terra.

Com a partida de Laura e do marido, o destino da Quinta passou para as mãos da filha, Maria da Conceição Silva Barbosa, e do seu marido, o Eng.º José Albino de Araújo Ramos, natural de Gondomar. Numa fase delicada de transição, foram eles quem manteve viva a propriedade, sustentando o legado familiar até que a nova geração estivesse pronta para assumir o futuro.

E esse futuro chegou. Os netos Manuel Ramos e Pedro Ramos, que desde cedo acompanharam de perto a avó e o tio, decidiram dar continuidade à história familiar.

Manuel Ramos, em estreita ligação com o tio conduziu a reabilitação da Quinta, modernizando as infraestruturas e orientando a produção exclusivamente para uvas destinadas a vinho. O objetivo era claro: transformar o saber herdado em vinhos que refletissem a essência da família, da terra e da região. Ganhou experiência ao lado do tio até ao seu falecimento, consolidando o conhecimento prático com formação académica. Determinado a unir tradição e ciência, especializou-se em agricultura e viticultura, concluindo em 2023 o Mestrado em Enologia e Viticultura na reconhecida Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

     Hoje, a Quinta das Primas vive um novo capítulo: fiel às suas raízes, mas com os olhos postos no futuro. Cada garrafa que aqui nasce é um tributo à memória dos que semearam antes — e um brinde às gerações que continuam a colher.